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Declarações do professor na redes sociais em debate sobre carta da
Associação Brasileira de Antropologia. |
É, vamos defender as Ciências Sociais?
Em decorrência de uma carta da
ABA (Associação Brasileira de Antropologia) que solicita a não exigência de
graduação em Ciências Sociais para o ingresso em concursos públicos para
lecionar Antropologia, uma vez que, entende a associação, não há por parte
deste órgão a tal exigência para quem deseja fazer pós-graduação em Antropologia
e que, esta norma também afasta bons profissionais da área do mercado de
trabalho pelo simples fato de serem graduados em outras áreas que não a de Ciências
Sociais.
Abriu-se uma discussão ferrenha entre "antropólogos com formação inicial em outras áreas do conhecimento" e "antropólogos com formação inicial em ciências sociais".
A questão se divide,
pois entendem-se que de fato, há bons antropólogos, sociólogos, e cientistas
políticos que não tiverem sua graduação em Ciências Sociais, exemplo disto é Lévi-Strauss
que teve sua formação inicial em Direito e Filosofia, mas foi admitido na USP
como sociólogo e depois reconhecido mundialmente como antropólogo. Outro
antropólogo reconhecidíssimo é Roy Wagner com bacharelado em História Medieval, ainda temos George Bateston um antropólogo surpreendetemente bacharel em Biologia.
Não reconhecer o mérito desses gênios da Antropologia moderna seria impossível
diante de suas respeitadas produções científicas. Do outro lado, estão aqueles
que observam a competitividade do mercado de trabalho contemporâneo. Diz-se que
o fato de vivermos no mundo capitalista e que, portanto, ter um mínimo de
garantia de inserção no mercado de trabalho é basilar para o incentivo da
graduação em Ciências Sociais, afinal de contas, hoje em dia, quem se predispõe
a passar quatro anos nas cadeiras de uma universidade sabendo que no final
corre o risco de conviver com a desvalorização profissional e consequentemente
o desemprego?
Seria meramente pelo prazer de fazer um curso superior? Bom, pelo
visto, esta discussão ainda vai longe. Colaborando ainda mais com esta contenda,
está o fato de que não há entre as profissões regulamentadas no Brasil a de cientista
social. Encontra-se antropólogo, sociólogo, cientista político.
Há aí uma
contradição lógica, um paradoxo. Se não é profissão, porque formam-se
cientistas sociais? Quem quer ser cientista social se não há reconhecimento
nisto? Há quem diga que o termo cientista social foi cunhado pelas elites para
justificar o estudo da pluralidade de conhecimentos. Como esses indivíduos não
tinham problemas financeiros, não estavam preocupados com profissão.
No
entanto, sabemos que as Ciências Sociais, o modelo como se apresenta, é
reconhecidamente um ramo da ciência, por sinal, distinto das humanidades, que
estuda os aspectos sociais do mundo no âmbito das relações humanas.
O fato de o cientista social
observar o mundo sob a ótica de três ciências distintas o coloca em vantagem em
relação àquele que foi treinado em apenas uma das Ciências Sociais. Isto
porque, o cientista social é capaz de inferir com mais precisão os aspectos
macro e micro da sociedade e sem dúvida alguma isto é um diferencial.
Não levar
isto em conta é ser no mínimo leviano, ou seja, é não considerar esse aspecto
do formado nas Ciências Sociais, é não refletir sobre algo tão preponderante do
fazer científico.
Foi nesse contexto que li, com muita tristeza o que um
professor da UESC, aliás, foi meu professor na disciplina “Antropologia dos
Grupos Afro-brasileiros", um excelente professor por sinal. Ao participar
da discussão, dá a sua opinião sobre o curso de Ciências Sociais. Fiz um print
da página, vejam o que ele disse:
"Gente, ciencias socias (sic) não pode ser tratado como
algo q exista - pq não existe. E (sic) um monstrinho formado por poucas
(demais) matérias de áreas distintas q só forma especialsitas(sic) em
generalidades".
Em outro momento quando alguém menciona o excesso de cursos
de Ciências Sociais ele declara:
"Não
é excesso, nem falta, nem nada. É q ciencias(sic) sociais não existe. É uma
criação artificial, por isso não tem lugar no mundo real. Não forma gente em
área nenhuma".
Na minha humilde opinião porém, o professor que nas redes sociais usa o pseudônimo
de "João da Silva", com estas declarações, contraria a própria preposição da Unesco que no final dos anos 1940, através do
seu Departamento de Ciências Sociais dirigido por Arthur Ramos pregava a
institucionalização das Ciências Sociais e que estas, em curso, seria uma
oportunidade única para superar a fase "livresca",
"literatóide" muitas vezes equivocada que os estudos antropológicos impunham
sobre as concepções da formação da sociedade brasileira, considerando a
situação dos negros e dos índios.
Ou seja, somente com a colaboração do estudos
em conjunto das demais Ciências Sociais, seria possível um entendimento mais
assertivo da situação racial no Brasil.
Portanto negar de modo tão acintoso
os formados em Ciências Sociais é colaborar com o pensamento hegemônico de que a
formação de uma sociedade criticista é nocivo para o modus vivendi de um povo (conservadorismo). Haja vista a própria heterogeneidade
no modo de ver o mundo do cientista social
proporcionado pelo estudo agrupado das Ciências Sociais.
O que nos falta, caro
professor, é apenas a legitimidade institucional do reconhecimento profissional,
pois o mérito, já possuímos.
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