
O que faz alguém se tornar um ditador? Percebam que o poder fascina, há aqueles que o exercem e há aqueles que namoram com ele, estão sempre por perto, farejando, besbilhotando, fazendo conchavos.
À beira da mesa dos que mandam, estão os que adoram as suas migalhas, são como o personagem Smigol do filme "O senhor dos anéis", sabem tudo, conhecem os caminhos, onde moram as aranhas do poder, dominam a arte da chantagem e sonham com o dia em que tomará para si o anel do poder que um dia imaginavam ser deles.
Essa gente é dominada por sentimentos espúrios do tipo: covardia, complexos de inferioridade, incapacidade. Pensam que são incompetentes demais para chegar lá através de caminhos dignos, e na maioria das vezes estão certos, imaginam que a maioria jamais daria a sua legitimidade, mas querem o poder de qualquer jeito, então especulam, espezinham e preparam o bote como uma serpente às escuras.
Não apenas na política, eles também estão nas empresas privadas, nas instituições públicas, nas universidades e pasmem, até nas religiões e nas famílias encontramos esse tipo de lixo humano individualista, egoísta às espreita, esperando um erro de alguém para por em prática sua mais nefasta arma, a chantagem. "Não me demita senão eu conto tudo", "aumenta meu salário do contrário vou jogar aquele caso no ventilador", "Eu sei da sua vida, vou acabar com você", "me apoie senão eu vou puxar seu tapete". "faça isso, faça aquilo e não reclame, do contrário será demitido".
No Brasil de 1964, depois do discurso de João Goulart no Rio de Janeiro, defendendo as organizações sociais e prometendo um governo populista, os conservadores ficaram apavorados, principalmente a chamada classe média, entre eles a Igreja Católica, os banqueiros, os empresários e também os ditos militares, esses últimos que já namoravam com o poder a algum tempo, especialmente depois da renúncia de Jânio Quadros, resolveram que aquela era a hora de tomar o poder no país, passaram então a acusar o governo de culpado pela caristia, de querer entregar o Brasil para os comunistas e chantagearam, foram para as ruas com sua tradicional ostensividade, exatamente depois que aconteceu o movimento organizado pelos conservadores citados acima contra as propostas do governo, chamado de "Marcha da Família com Deus pela Liberdade".
Era a hora das toupeiras entrarem em ação, em nome de Deus, da moral e da família, lançaram o Ato Institucional número 1, que cassava mandatos políticos que faziam oposição aos militares e tirava a estabilidade dos funcionários públicos, ou seja, se não aceitassem a total subserviência ao regime, deveria imediatamente dar lugar a quem era do lado militar, sempre às escuras, na calada da noite, no oportunismo.
No Egito, Mubarak era o herói de uma guerra, membro da Força Aérea egípcia, já estava ali, pertinho do poder, ou melhor, já namorava com ele e assim chegou à vice-presidência em 1975.
Quando o presidente Anwar Sadat, foi morto por islamitas em 1981, num desfile militar, sabe-se lá em quais condições e por quais verdadeiros motivos, eis que Mubarak assume o poder e de imediato mudou as leis políticas do país que tornou praticamente impossível um partido de oposição chegar ao poder, golpeou a democracia, a vontade do povo, o desejo era se perpetuar no poder.
Quando estudamos Aristóteles e sua política, encontramos a informação de que a tirania se vale da ilegalidade. O primeiro ato de um ditador é mudar as leis que quebram a legitimidade do seu poder e coloca no lugar delas, segundo afirma Platão, "regras que são estabelecidas segundo o que lhe convém", no único objetivo de continuar no poder.
O desenho é sempre igual, as ações são muito parecidas, na imensa maioria das vezes não há para o cidadão nenhum benefício, o que se vê em uma ditadura são privilégios para uma minoria déspota que usa a força, a coerção, a ameaça, a violência brutal para a legitimização do seu poder.
No entanto, fica difícil um ditador se manter no poder por muito tempo utilizando ferramentas tão desumanas, e como escreveu Aristóteles , é "um estado de ilegalidade" e assim sendo, continuar no poder por muito tempo é impossível, quando a paciência do povo se esgota, começa a sua derrocada.
Aristóteles afirma que a tirania é curta, porque seus sistemas de governos são fracos moralmente, não tem apoio do povo e Maquiavel setencia: "a tirania é o governo que tem menor duração e de todos, é o que tem o pior final".
Foi o que assistimos nesses últimos dias no Egito, por mais mecanismos que Mubarak usava para ludibriar o povo, nenhum deles colou e ele teve que colocar o rabinho entre as pernas e sair do poder assim como lá entrou, às escuras, mas deixou um saldo de mais de 300 mortos, entre eles, jornalistas que cobriam os fatos.
Durante todo o processo, o povo egípcio sabia o que queria, o fim da ditadura. Jovens, crianças, idosos, intelectuais e nesse caso até parte importante do exército queria acabar com aquele sofrimento que já durava 30 anos, que só se manteve por esse tempo porque se apoiou em políticas internacionais de paz no Oriente Médio, como o acordo feito com Israel e com isso ganhou apoio de governos ocidentais como os Estados Unidos.
O mundo então se mobilizou e apoiou o povo egípcio, formadores de opinião, organizações como o Avaaz, que resolveu colocar a boca no trombone e fazer pressão sobre os governos de vários países, inclusive o americano através da mobilização popular, até um cartunista brasileiro contribuiu com suas charges, aí não deu pra Mubarak, cai mais uma ditadura pelo legítimo poder do povo nas ruas, e agora com uma poderosa ferramenta, a internet. E pelo que preveem os Cientistas Sociais, vem mais quedas por aí, os últimos ditadores não perdem por esperar!