Não é de hoje que se tem dito: os estudantes contemporâneos são
problemáticos, desinteressados, descomprometidos, violentos no ambiente
escolar.
Diz-se que não estão muito preocupados com o preparo para a
vida, no que tange à formação educacional, à vida acadêmica e, consequentemente, à vida profissional.
Alguns especialistas apontam como
causas, os problemas familiares, o Estado e seu desejo de fazer avançar nas séries
a qualquer custo sem se importar com a qualidade do aprendizado, as novas
tecnologias que chamam a atenção dos estudantes mais do que o próprio ato de
aprender. E quando se esgotam todos os possíveis culpados, aí se joga a culpa
no próprio estudante, é ele quem não quer. É ele, o estudante, que não se
esforça e por isso não arranja dentro de si mesmo interesse por uma vida futura
mais digna, mais significativa.
No entanto, observa-se um fenômeno,
nem sei se posso chamar isso de fenômeno, porque acredito que essa é uma
prática que se arrasta já por longo tempo e compõe o dia a dia do ensino nas
nossas escolas.
Trata-se do professor e seu modus operandi no cotidiano da
escola.
Durante os anos que tenho atuado em escolas, às vezes como mero
observador, outras vezes ministrando aulas ou coordenando,
percebo que há uma parcela considerável de professores pouco comprometida com o
ensino. Negligenciam o preparo de aulas, de modo que não conseguem expor o conteúdo de forma
clara. Não se atualizam e por isso mesmo não contextualizam.
Impera ainda a ultrapassada ideia de que o professor é portador de um conhecimento
adquirido durante os longos anos na faculdade e que os estudantes em sala de
aula são desprovidos de crítica, de conhecimentos advindos do seu
cotidiano fora da escola. Que os estudantes estão e devem estar a mercê da "majestade da educação" que atende pelo nome de professor ou professora.
A educação bancária tão criticada por Paulo Freire ainda resiste e ignora que o
estudante moderno conta com algo que ultrapassa os limites impostos pelo defasado
modelo de oferecer educação que continua sendo praticado em nossas escolas. É a velocidade da informação em um mundo globalizado. O conhecimento rompeu os muros das escolas, das faculdades, o
conhecimento está na sala de casa, ou no quarto do adolescente a um click, simplesmente.
O professor precisa ter consciência disto e deve saber que ao adentrar
em uma sala de aula precisa estar preparado, sob pena de ver seu trabalho
desacreditado, pois se espera não que o professor seja conhecedor de tudo, mas
o mínimo de contextualização para dialogar com as novas gerações de modo a não
parecer imbecil.
Agravante ainda é a existência do professor paizão,
aquele que por conta da sua incapacidade de agregar pela boa mediação do conhecimento,
ignora e faz vistas grossas a faltas graves dos estudantes. Este quer ser chamado não de professor capaz, mas
de professor "gente boa" e por isso ser adorado pela turma prestando um desserviço para a educação.
Mas quando o professor desafia, surge a figura da direção pedagógica que apela para o professor empobrecer a linguagem ou mesmo subtrair assuntos programados por conta da
aparente complexidade. Pois dizem: os estudantes terão dificuldade de aprender
e tirar boas notas nas provas.
O problema não está nos assuntos estudados, o
problema está na formação original dos estudantes. Eles vêm de lá dos primeiros anos
do processo educacional quando não foram desafiados a pesquisar, a enriquecer
seu vocabulário e como consequência chegam nas séries subsequentes sem compreender
termos comuns, sem condições de interpretar textos simples.
Mas afinal, de quem verdadeiramente é a culpa?
Será mesmo do estudante desinteressado? Do Estado liberal ou neo liberal que usa a
população como massa de manobra? Da família que não acompanha o filho na
escola, que não participa de modo ativo da sua vida escolar? Das novas
tecnologias que trazem a cada momento uma variedade de novidades que prendem e desviam a
atenção de crianças, adolescentes e jovens? Da escola mal equipada que não
lança mão de tecnologias com o objetivo de oferecer ao aluno uma
educação contextualizada com a sua realidade?
Pode-se afirmar que cada uma dessas variáveis oferece entraves, mas, não tenho dúvida, é preciso acrescentar
outro ator, o “professor de faz de conta”. Esse com certeza soma para que a
educação no Brasil siga mergulhada em uma crise interminável.
Tal educador faz uma boa parceria com uma direção escolar
preocupada apenas com números e a universidade que considera as licenciaturas a
sua última preocupação.
Eles todos colaboram para que o país siga acreditando
que jogar bola e arrochar, são as maiores representações do povo
brasileiro.
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