sexta-feira, 8 de julho de 2011

Criar expectativas é aceitar o compromisso de satisfazê-las

Em uma reunião pedagógica, presenciei uma cena no mínimo curiosa. É triste observar como as pessoas às vezes não sabem lidar com o sucesso e o transforma em seu próprio algoz.

Um profissional de educação, convidado para dar  palestra para professores em uma escola da rede privada, chegou, cheio de aparatos, data show, notebook, powerpoint devidamente preparado.

Aí alguém, como pede a formalidade, começou a apresentá-lo: "O professor fulano de tal, é formado em Letras pela universidade tal, fez pós-graduação em outra tal, especialização em mais outra lá". Enquanto transcorria a apresentação, o apresentado tratou de imediatamente colocar no data show todos os seus títulos, suas conquistas acadêmicas e em seguida, com ar pomposo, iniciou a palestra.

Sua proposta era mostrar aos profissionais de educação presentes, os novos métodos de trabalho em sala de aula. Métodos, que segundo suas pesquisas e "vasta experiência" na área de educação, têm surtido grandes efeitos sobre a criançada, e, sem dúvida alguma, transformariam cada estudante em grandes conhecedores de todas as disciplinas a serem estudadas, muito mais que os velhos métodos de ensino ultrapassados, que deixou muita gente pelo caminho.

Fazia suas ponderações quando uma professora resolveu comentar uma de suas colocações. A profissional argumentou que não via daquela forma, entendia que as muitas tentativas de modernizar o ensino,  transformou a educação numa suposta panacéia, aquela que pode curar todos os males, coisa que na prática não vem ocorrendo pois, muito embora o professor deseja ser um agente de transformação com melhores resultados, o sistema de ensino no Brasil engessa o processo, desmotiva o docente no seu sonho de oferecer o algo mais. E afirmou que, apesar de estudar no método de ensino tradicional, estava ali, chegou onde queria chegar.

O palestrante não se deu por convencido e desafiou:“você chegou, mas quer ver eu te provar que o método antigo não é produtivo? Quantos de seus colegas conseguiram chegar onde você está?"
Ele não contava com a resposta da professora. Ela disse: “todos, todos os meus colegas conseguiram chegar!”

Ele arregalou os olhos e disse: "como assim? Todos?!" Outra docente mais experiente que por acaso havia sido professora da colega, completou: "sim! Todos os meus alunos chegaram à faculdade, e hoje estão  no mercado de trabalho como profissionais qualificados".

Um silêncio... um suspiro...e o palestrante disse: “ahh! Mas isso é uma exceção, na maioria dos casos, os estudantes vão ficando para trás". Se sim, ou se não, o fato é que esse episódio desconcertou o pobre rapaz, os argumentos foram ficando sem fundamentação, outros colegas entraram na discussão e se viu, nitidamente, que o rapaz amarelou. Em um dado momento, ficou claro, que o maior desejo dele era  terminar aquela palestra, pear a grana da contratação e sair daquele lugar o mais rápido possível, e foi exatamente o que aconteceu.

Não sei o que o leitor pensa, mas imagino que quando você se predispõe a defender algo, uma ideia, é preciso se cercar de argumentos poderosos, convincentes, quase irrefutáveis e se preparar para as perguntas que certamente surgirão. Ter para cada uma delas respostas que, se não respondem completamente, ao menos devolva para o questionador, a sensação de que é possível que seja mesmo assim.

Particularmente não vejo nada demais em você apresentar suas credenciais, afinal, você lutou para conseguir cada uma delas, e, de modo quase geral, as pessoas gostam de saber que estão diante de uma pessoa qualificada. No entanto, é preciso estar ciente que apresentar credenciais é criar expectativas. E quando estas são criadas, por favor, satisfaça-as, do contrário, você adquire o passaporte para seu próprio fim, seja em qualquer área da vida; no namoro, no casamento, no profissional, nas amizades, e em tudo que diz respeito às atividades humanas.

O mundo moderno, ou como queiram alguns estudiosos, o mundo pós-moderno ou líquido, se tornou muito exigente e competitivo. Não se aceita o mediano, o quase bom, é preciso buscar a excelência. Em tempos de ISO de todos os valores, o que vale mesmo é a superação de expectativas, e não o comum, o trivial. Este pode ser encontrado em quase todas as esquinas. Mas responda esta questão: depois de alcançada a excelência, por qual motivo algumas pessoas sentem repentina dificuldade em lidar com o sucesso?

2 comentários:

  1. Interessante chegar aqui ver que o assunto da blogagem coletiva que estou propondo ser abordado, mesmo que de um jeito um pouco diferente. Acho que o antigo jeito de ensinar é muito cansativo e muitas vezes não faz o aluno de fato aprender, ele decora pra escrever na prova e depois esquece mesmo muitas vezes tendo que aprender a mesma matéria durante anos seguidos. Não quer dizer isso porém que não tenha pessoas que conseguem aprender com o método antigo, só é mais trabalhoso porque quando se sai da escola e entra na faculdade vc tem que mudar a forma como adquire conhecimento.É uma mudança brusca parar de decorar e ter que raciocinar. A evasão escolar acredito que se dê mais pelas condições sociais precárias do que pelos métodos de ensino, porém nem todos os que saem da escola no fim do segundo grau saem com a mesma bagagem, no fim depende muito do interesse pessoal do aluno.

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  2. Oi Aleska,
    muito grato pelo comentário, sem dúvida a educação brasileira precisa ser repensada. É o que tem feito inúmeros especialistas Brasil à fora, mas você tocou em um ponto importante,a evasão escolar, que concordo plenamente com vc, ela se dá pelas precárias condições sociais, basta ver o que aconteceu por exemplo no ano 2004, quando dados do INEP apontou mais de 26 milhões de matrículas no ensino fundamental e desses, ao fim, apenas 9 milhões chegaram ao Ensino Médio, cerca de 16 milhões de brasileiros abandonaram a escola, a maioria deles , vítimas da má distribuição de renda e falta de políticas públicas, é verdade que a coisa vem mudando na atualidade por conta de ações paliativas do governo, mas ainda há muito o que fazer sem dúvida.

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