No filme/documentário "O dilema das redes", os especialistas apontam para um mundo presente e futuro completamente dominado pelo que o mercado online deseja, onde a verdade dos fatos ou a mentira tem pouca relevância, na verdade, a falsidade e o engano dão o tom das relações sociais fundamentadas em mecanismos online, tendo em vista que, para uma maioria de desinformados, a verdade não tem graça alguma.
O domínio se dá a partir da interação de cada indivíduo nas redes sociais, o que lê, o que escreve, o que busca, o que vê, o que compra. Baseia-se nos interesses de cada um e então acontece o processo de manipulação, onde você não se pertence, sua liberdade é tirada sorrateiramente e você faz exatamente o que a Inteligência Artificial alí aplicada deseja, com o objetivo de ofertar aos anunciantes de produtos e serviços, certezas de bons negócios.
Quem capitaneia o documentário é Tristan Harris, ex funcionário do Google e um dos nomes mais respeitados da valorizada tecnologia persuasiva. Harris, percebeu, enquanto desenvolvia as ferramentas de persuasão, o quanto as redes sociais são viciantes e como elas conseguem manipular milhares de pessoas e o pior, o quanto esse domínio é perigoso para o tecido social. Assim, tentou, dentro da indústria online, encontrar caminhos para diminuir tal poder, sem sucesso, hoje milita em uma causa que ele assume, é quase impossível e é exatamente de olho nesse "quase" que ele deposita sua esperança.
Desde a eleição de Donald Trump, o mundo viu surgir de modo assustador a capacidade de manipulação das redes sociais. O Brasil experimentou de modo avassalador com a eleição de Bolsonaro. Os engenheiros do Vale do Silício admitem que essas duas eleições e outras mundo à fora, sofreram forte influência dos bilhões de algoritmos desenvolvidos e em pleno vigor nas redes sociais e funciona assim: alguém prepara um discurso mentiroso ou não, e solicita aos administradores das redes, indivíduos que, de alguma maneira, o mais próximo possível, se identifiquem com o discurso, prontamente este banquete é servido, a partir daí, esses milhares de indivíduos são mapeados, rastreados e persuadidos a espalhar aos seus contatos e até militar na defesa da ideia e para isso, não há regras, não há controle do que é compartilhado, se falso ou verdadeiro, importa que a mensagem seja difundida e aceita.
Foi assim com a "ideia terraplanista", foi assim com a ideia do "pizzagate", foi assim na eleição de Trump e ninguém duvida que foi assim na eleição de Bolsonaro aqui no Brasil. Há que se pensar também e com muito temor, no quanto que esse modo de persuasão tem sido brutal com as novas gerações, vítimas fáceis de um sistema que ignora o bem estar das pessoas, a segurança, a liberdade e o desenvolvimento pleno do ser humano.
Estamos vivendo um tempo onde podemos afirmar que a pessoa não possui um celular, mas o celular possui uma pessoa. Não nos enganamos quanto à alienação online que tem destruído vidas, enfraquecido as já fragilizadas democracias, dilacerado relacionamentos, carreiras, projetos.
Quando analisamos os fatos, a ideia de radicalismo para a ordem "Desligue suas redes sociais", cai por terra, uma vez que a obediência a tal ordem é na verdade um prenúncio de libertação. Alguém poderá dizer que há benefícios com as redes, sim, inegavelmente há, aproxima pessoas encurtando distâncias, dá voz aos esquecidos, serviços essenciais são divulgados, mas e os efeitos colaterais? Isso não foi mensurado. Claro que não dá pra pensar em maldade dos criadores, o modelo de capitalização em vigência no mundo é que está equivocado, não pensa nas consequências, somente que fins, o lucro, justificam os processos.
Pois bem, e o que nos resta? A crítica, ela pode equilibrar a batalha. Pergunte sempre se precisa ver aquilo, ler aquilo. Analise a fonte se de fato tem embasamento, valorize a vida, a beleza, a harmonia, o por do sol, o verde das matas, o sorriso de seu filho ou de sua filha, a conversa face a face, desconecte-se um pouco a cada dia, entenda qual é o estritamente necessário e torne-o básico, não o primordial. Há coisas incríveis pra fazer, não entregue seu tempo às mídias sociais, não seja o produto delas para o qual, os variados tipos de empresas e políticos estão dispostos a pagar milhares de dólares.
Recomendo que veja o filme/documentário "O dilema das redes". Observe como tudo funciona e, se não te surpreender, te dará a certeza de que há vida longe das telas.