Hoje, sexta-feira, dia 02 de março de 2018, por conta de compromissos que ultrapassaram meu costumeiro horário de ir pra casa, para a refeição do meio dia, não pude levar meu filho de dois anos e meio para a escolinha. Minha esposa ficou na incumbência desse serviço. Já faz alguns meses que comprei um carro e o trajeto tem sido feito com ele, mas dessa vez, os dois, esposa e filho, precisaram ir a pé, são poucos quarteirões, diria que o percurso não passa de 500 metros.
Era por volta de 13:30, quando dois elementos (é sempre assim) em uma moto azul, escondendo-se na covardia, quase sempre de capacete, uma vez que falta-lhes coragem para assumir sua condição amoral, puxou uma arma e "deu voz de assalto" à minha esposa e filho. Pediram o celular, mas como não estava com ela, puxaram a pequena mochila colorida da criança, abriram e bagunçaram as coisas do menino, na certa sem acreditar que o objeto "tão valioso" a porcaria de um celular que, para eles justificava tamanha insanidade, não estava com ela.
A criança, atônita, sem entender os "porquês" de tudo aquilo, como se fosse possível de entender até para nós adultos, perguntava à mãe, quem poderiam ser aqueles homens, agoniados, nervosos, com voz de comando e ameaças, o ronco de uma moto azul, que ameaçava a todo instante sair em disparada em seu ouvido, aparecia como algo que ele nunca tinha visto e ouvido, situações que o deixaram assustado, com olhos arregalados e marejados.
Não achando o celular, um deles, frustrado com o insucesso do roubo, pediu ao comparsa para deixar "ela levar o moleque pra escola", o meliante, no entanto, viu que ela estava com um brinco e deu o comando: "então me passa esses brincos ai, vai! Ligeiro!". Os bens, de pouco valor, eram apenas bijuterias simples, o prejuízo maior é a sensação de ser roubado, furtado, especialmente em seu direito de ir e vir com segurança, a sensação de que levar o seu filho para a escola em uma cidade como Itabuna é aventurar-se, arriscar a vida de si mesma ou de seu filho.
Eu saia do meu compromisso, mais ou menos no mesmo horário que estava ocorrendo o roubo, passei em frente à Igreja Santa Rita de Cássia, e ali estava uma viatura parada, cinco policiais, armados, patrulhando o nada, navegando na internet por meio de celulares, rindo das piadas que viam nas redes sociais. Respeito o trabalho da polícia, acho que, na condição de elo fraco, o cidadão precisa do braço forte do Estado, o trabalho policial, para ver garantidos os seus direitos primários, aliás essa é a função e o dever do Estado, para o qual o cidadão abriu mão do seu direito de liberdade plena e deu plenos poderes ao Estado a fim de que este, garanta o seu direito à propriedade e dentre essas propriedades está também a própria vida. Não é esta a lógica da sociedade do contrato social?
Acontece que, no Brasil, vivenciamos a realidade de um Estado falido, que já não dá conta da sua obrigação, do seu dever, que não consegue, ou por incompetência, ou por interesses espúrios, ou mesmo por falta de iniciativa, controlar o avanço da criminalidade, da violência que se apresenta de todas as maneiras possíveis, visíveis e invisíveis, perto, longe ou em suas entranhas. O cidadão e cidadã comuns, o trabalhador e a trabalhadora, pais e mães de família, se sentem aprisionados, vítimas da generalização do medo, da falta de segurança, da sensação de impunidade que cerca e toma conta das mentes de pessoas mal intencionadas, egoístas, para os quais não existem princípios como: moral, respeito, compaixão.
O povo de bem de Itabuna, como na maioria das cidades brasileiras são reféns do medo, já não consegue afirmar se voltará para casa são e salvo, ou mesmo se dentro de casa, conseguirá se safar dos tiroteios amiúdes em todos os cantos da cidade, em todos os bairros, desde as partes mais longínquas até as mais próximas do centro.
Outro dia, quando lavava o tanque de casa, encontrei uma bala calibre 38 que perfurou a tampa e só não furou o tanque por conta do volume de água. Fiquei pensando: e se fosse agora que estou aqui, ou mesmo se fosse em uma dia que eu estivesse com a família aqui?
O apelo que fica, é aquele que já é enfadonho, que já parece um apito mudo, que os responsáveis por colocar ordem na vida pública, sejam realmente capazes, primeiro de ordenar a si mesmos e depois, através de medidas adequadas e eficientes, mostrar ao cidadão que é possível confiar no Estado, afinal, a quem recorrer quando não podemos nos armar e como no "estado de natureza", agir livremente no modo "quem tiver a unha maior que suba na parede" ou mesmo como no Talião "olho por olho, dente por dente?".