quinta-feira, 27 de março de 2014

O discurso emocionante do Prof Beto para os formandos em Ciências Sociais na UESC



Carlos Roberto Guimarães (Prof.Beto)
Quero primeiro cumprimentar a magnífica reitora da UESC, a Professora Doutora Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro em nome da qual cumprimento os demais integrantes da mesa.

Cumprimento os formandos, meus afilhados, os formandos de Ciências Sociais.
Também cumprimento os demais professores e alunos aqui presentes, funcionários, pais, amigos e demais convidados.

Queria começar minha fala retomando uma conversa que tive com os formandos ainda no meu primeiro encontro com a turma, quando eles eram ainda calouros do primeiro período. Se tivesse que escolher um título para esta reflexão que proponho aqui seria “Apologia aos esquisitos”... 

Sim, os esquisitos. E é isto mesmo que estão pensando formandos: os esquisitos aqui são vocês. Mas, o que significa esquisito? Esquisito é aquilo que é diferente, que nos é estranho, que escapole à padronização, fora do trivial, que foge da mediania. Mas porque este título? Certamente é o que vocês estão se perguntando! Podem inclusive acusar-me de estar aqui simplesmente exercendo um discurso retórico, vazio de sentido. Deixemos, pois em suspenso a tal esquisitice!

Quando analisamos estatísticas referentes a processos seletivos para o ingresso nas universidades, percebemos que o curso de Ciências Sociais está longe de ser o mais procurado. Encabeçam a lista de preferência cursos como Direito, Engenharia, Medicina, dentre outros. E, se a disputa pela vaga é acirrada nestes cursos, significa então que estes são os cursos que “todo mundo deseja”... 

Uma multidão de jovens lotam turmas de pré-vestibulares para pleitear uma cadeira nestes cursos. É assim hoje, acredito que será assim amanhã e, é o que me interessa aqui, foi assim no ano de 2009. Enquanto uma multidão procurava tais cursos, eis que um grupo de jovens caminhava na contramão. 

Ora, são muitas as razões para se pleitear tais cursos: noves fora os motivos de ordem vocacional ou algo que o valha que realmente movem jovens na busca pela medicina, direito ou engenharia, noves fora tudo isto, suspeito que grande parte desta multidão alimente o sonho de um retorno financeiro, a busca por um status ou qualquer coisa parecida. Tudo isto também é legítimo, a fala aqui não tem pretensão de emitir nenhum juízo de valor. Não estou aqui para falar sobre o que se passa com um estudante destes cursos.   

O que se quer é entender o que diabos se passa na cabeça de um jovem que caminha na contramão desta maioria. Que diabos, meus caros formandos, se passava na cabeça de vocês naquele ano de 2009 ao buscar o curso de Ciências Sociais... Pretendiam ficar ricos? Certamente que não. Busca por status... Não. Então o que os move, meus afilhados, senão uma esquisitice. Convenhamos: é esquisito. 

Não é à toa, que quando um jovem anuncia que vai fazer engenharia, recebe logo em seguida um parabéns! Vou fazer direito... Opa: coisa boa, siga em frente. Mas quando se anuncia: vou fazer Ciências Sociais... O que se ouve, de supetão, não é o parabéns! O que se ouve é uma pergunta: Por quê? Este porque é sintomático. Não é necessário perguntar a um jovem o porquê de ele estudar direito. A escolha se autojustifica. É só dar os parabéns! Mas se a escolha é o curso de Ciências Sociais faz-se necessário uma explicação e, só se exige explicação daquilo que é, de início estranho, esquisito. 

E estranho e esquisito é aquilo que foge à alçada de uma razão, que é a razão que norteia e ilumina o desejo de uma multidão que se acotovela nesta acirrada busca pela cadeira de um destes concorridos cursos. E é esta razão que se sente incomodada por suas escolhas, afilhados. Ela se sente incomodada por que a escolha de vocês não se deixa calibrar pela cifra desta racionalidade. Vocês são aqueles que se negam a rezar nesta cartilha. E é por isto que a pergunta do porque é capciosa... É de difícil resposta. 

Certamente, todas as vezes que vocês se depararam com tal pergunta, vocês se atrapalharam. E se atrapalharam, caros afilhados, porque a pergunta é caduca, é despropositada. E uma pergunta caduca, despropositada é uma pergunta fora de foco, e por ser fora de foco, ela não tem sentido, e se não tem sentido, não pode ser respondida. Ou seja: vocês jamais poderão responder por que escolheram fazer Ciências Sociais; e mais: todas as vezes que se arvoraram em responder, a resposta não passou de retórica.

Vocês jamais podem responder por que escolheram fazer Ciências Sociais, porque no fundo, vocês nunca escolheram este curso. E aqui estamos no cerne da esquisitice. Vocês internamente devem agora estar fazendo objeções à minha fala, argumentando – não professor! Nós escolhemos sim! Existia um conjunto de possibilidades, uma gama de cursos e, diante deles, usamos nossa razão, calculamos, ponderamos e escolhemos! Sinto muito afilhados... Ledo engano! A sensação de que se escolheu nada mais é do que a artimanha de uma razão que teima em nos sabotar. 

Vocês nunca fizeram esta escolha. Vocês não escolheram Ciências Sociais, porque não se pode escolher aquilo que se ama. Nós não escolhemos aquilo que nos apaixona; apaixonamo-nos, simplesmente! Tal qual um jovem que, apaixonado por sua mulher, sente-se orgulhoso por ter feito tão feliz escolha, quando, no entanto, o que aconteceu é que este jovem não escolheu esta mulher... Na verdade, o que ocorreu é que ele foi afetado, tomado, arrebatado por ela. E ao se embriagar com tudo isto, a sua própria razão não se deu conta e, quando esta razão se aprumou um pouco, ela olhou para a mulher e disse, com toda soberba: eu te escolho... Só que já era tarde demais para esta razão fazer a escolha... Ela, a razão, já tinha sido tomada, assaltada, reivindicada, afetada pela paixão.

Tá querendo enganar quem razão? E assim é o caso de vocês, meus afilhados: antes de mais nada vocês foram afetados, arrebatados, tomados por este fenômeno chamado sociedade. Mas, o que é a sociedade? A sociedade nada mais é do que um complexo fenômeno constituído por um conjunto de impulsos, interesses, desejos, amores, ódios, rezas de todo tipo, perspectivas ideológico-políticas de toda sorte, todo naipe de querença.

Quando vocês acharam que estavam escolhendo fazer Ciências Sociais, no fundo vocês já estavam enamorados, tomados, reivindicados por todo este conjunto de querenças e mais toda uma sutileza de humores para os quais não encontro palavras...Vocês foram afetados por todas estas querenças que constituem este complexo fenômeno que, no fundo, responde pelo nome de vida. 

Um cientista social nada mais é do que um ser afetado por este fenômeno. E como já alertei, não escolhemos o que nos afeta, o que nos apaixona. Mas não é qualquer um que se afeta por tudo isto, não basta ter razão, faz-se necessário ter uma alma afinada pela vida a ponto de ser sensível a todas estas querenças que permeiam o fenômeno vida em sociedade. É por isto, meus afilhados, que as Ciências Sociais, não são para todos, não são para a maioria... São para poucos.

Não basta ser bom de cálculo, é necessário ter coração e ouvido afinados para auscultar todas estas querenças. E ter este ouvido e este coração afetado pelas querenças da sociedade é que é o divino, é que é o céu de vocês... É o céu, mas é também o inferno de cada um de vocês, pois é justamente por serem afetados que vocês não mais podem ser indiferentes às mazelas que acometem à sociedade que respondem pelo nome de corrupção; vocês não mais podem ser insensíveis às causas de uma praga que assola milhares de pessoas que denominamos de fome; desde sempre agora, o mais baixo gemido de uma dor injusta que ecoe na sociedade alcançará decibéis altíssimos em seus ouvidos. 

E durma-se com todo este barulho caros formandos. Durma-se não: e tome leituras e teorias desde os clássicos para tentar destrinchar o que ocorre nas vísceras deste fenômeno complexo que é a sociedade que, aqui, eu chamo de vida. Vejam formandos, onde é que vocês foram se meter. Por isto, que me perdoem os gênios da física, da engenharia, da matemática. Estudar o átomo, as equações matemáticas mais sofisticadas, tornam-se fichinhas perto do que vocês estudam. 

Sou suspeito para dizer isto: mas, aqui neste momento, estes 14 jovens passam a fazer parte de um seleto grupo que, a meu ver, constitui o que há de mais nobre e sofisticado numa comunidade científica. Por isto esta apologia... Por isto eu os reverencio! Obrigado!

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